Itabirito: com 20 anos de Prefeitura, médica é demitida após reclamar de atraso de 4 meses no pagamento     
Doutora Eliane - Foto: Captura de tela de vídeo - Instagram
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ITABIRITO (MG) – Numa longa conversa na noite de ontem (14/5), via WhatsApp, a cardiologista Eliane Michel falou ao Radar Geral a respeito de sua demissão da Prefeitura após 20 anos de serviços prestados ao Município.

Segundo ela, foram basicamente 2 os motivos que culmiraram na demissão: 1º – ter reclamado (na Ouvidoria) do atraso de 4 meses em seu pagamento e 2º – ter faltado (em janeiro) um único dia pelo fato de sua mãe ter dado entrada num CTI. “Quando faltei, quase fui demitida por esse motivo, mesmo atendendo todos que estavam agendados na semana seguinte”, disse ela.

Eliane (que inclusive postou um vídeo no Instagram sobre o assunto) deu detalhes: “Ao protocolar o meu pedido de avaliação do atraso de pagamento, fui informada que a secretária de Saúde não gostou da minha atitude de recorrer à Ouvidoria (…). Ela me chamou friamente até a sua sala, no final de abril, e encerrou os meus 20 anos de dedicação afirmando que não aceitou o motivo de eu ter faltado no início do ano”.

A doutora é nascida em Itabirito. Conhecida na cidade como Lili, ela atendia no Centro Estadual de Atenção Especializada (Ceae). Apesar de levar o nome “estadual”, faz parte do SUS e, portanto, é a Secretaria Municipal de Saúde que responde pelo serviço (que funciona ao lado do Hospital).

Ainda sobre o atraso, a médica afirmou: “Houve um problema com o ree do meu pagamento desde novembro de 2024. Solicitei atenção dos meus superiores, porém não fui ouvida. Era época de eleição. Quando a Prefeitura mudou a gestão, me disseram que eu deveria esperar, porém já estava no 3º mês de atraso”.

Foi a partir de então que Lili decidiu procurar a Ouvidoria.

APARELHOS

A médica ainda conversou com o Radar sobre a compra, feita pela Prefeitura, de “aparelhos caríssimos, mas que não estão de acordo com a normas técnicas”.

“Geralmente licitações são feitas e o especialista da área sempre opina sobre os requisitos mínimos para o aparelho. Não me perguntaram nada e gastaram muito em aparelhos que infelizmente eu tive que rejeitar a maioria”, afirmou.

E ela deu exemplo: “Os aparelhos de holter, eu me desdobrei para fazer aulas online e traduzi tudo para serem aproveitados”.

Disse mais: “Quando fui chamada na Prefeitura, até pensei, no auge da minha inocência (risos), que eu iria ser parabenizada por ter me virado para colocar os aparelhos de holter para funcionar. Que nada! Fui chamada para ser demitida sem a menor consideração (…). Sou médica moradora da cidade. Sou filha da cidade. Meus pacientes são meus conhecidos, vizinhos, conterrâneos. Meu comprometimento com a população sempre teve um ‘plus’. Mas nada disso foi levado em consideração. É uma péssima sensação estar nas mãos desses líderes que não se comportam como líderes. Vaidade? Egos inflados? Quem perde é a gente, né?: eu e a população. Afinal sempre estive aqui. Quando há um acidente, há um impedimento na BR, na época da enchente, a única médica que estava trabalhando era eu. Isso porque estou em Itabirito, e estou aqui pela cidade. Frustrante, viu? Eu já tenho 25 anos de formada. Não sou iniciante. Mas, na minha cidade, não tenho oportunidade para trabalho. Tenho agora que procurar fora daqui para completar meu ganha-pão. Impressionante essa situação. Não esperava mesmo!”.

A doutora contou ainda: “(Há algum tempo) fomos ‘transformados’ em pessoas jurídicas justamente para terem a liberdade de nos tratar como empresas, sem vínculo empregatício, mas também sem nenhuma consideração. Fui privada de férias, atestado, 13º e até mesmo de feriados que a própria Prefeitura goza. Nunca reclamei. Inclusive, aproveitaram o dia do meu atendimento para realizarem exame (feito pelo oftalmogista), que necessita de cardiologista perto e nunca fui paga para dar essa assistência. Eu nem podia trocar meu dia de trabalho por outro porque estava sempre presa a essa função nunca remunerada. Não reclamei de ter dado essa assistência pelo fato de eu ter feito juramento quando me formei”.

OUTRO LADO

O Radar procurou a Prefeitura, mas não houve resposta até as 17h26. O prazo estipulado pela Redação foi até as 16h30. O e-mail foi enviado às 13h33, quando foi feita também uma ligação informando sobre a demanda e solicitando até (se fosse melhor para a Prefeitura) uma entrevista com a secretária de Saúde, Cleusa Claudino, para tratar dos assuntos colocados.

O site está (como sempre esteve) de portas abertas para toda e qualquer manifestação do Muncípio a respeito das demandas solicitadas pela Reportagem.

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